Das entranhas da terra, ruge e arrasta-se, uma lesma que desperta do seu covil. Mas esta é diferente, devora humanos, como outras que vi, noutras terras, noutros tempos. Os seus olhos serpenteiam na penumbra, indiferentes, à fome, à guerra, à doença. Brilham iguais sob o peso do mundo, quer reine o bem, quer impere a tormenta. De longe a longe, uma voz anuncia o caminho, repetida, imutável, sem nunca se cansar. Ao meu redor, sombras imóveis, olhares vazios, procuram em si os sonhos perdidos, os pensamentos há muito falidos. E eu, embalado pelo seu deslizar, sou levado no ritmo rouco da viagem, zombie entre zombies, preso em sonhos, ou no que resta do meu sonhar. Por fim, sou cuspido pela besta, de volta ao mundo, à luz do dia. Mas amanhã, mesmo sem querer, ela há-de abrir-se para me engolir. Despeço-me do Metro… até outro dia. Jorge Santos-Silva
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