A Ira não é descontrole, nem grito lançado ao vazio.
É luz clara numa noite turva,
é o olhar que vê o que foi distorcido,
o espelho quebrado que ainda reflete a verdade.
Surge quando a manipulação envenena
o santuário da razão e do afeto,
quando o veneno dos outros circula silencioso
e ameaça corroer a essência, a identidade.
Não é desvio, nem falha moral —
é defesa viva,
a resposta imune de um corpo fatigado,
que se ergue contra a infeção simbólica.
A Ira dignifica-se na justiça do seu fogo,
quando é limite que rasga a névoa,
quando é rutura que liberta,
quando não procura destruir, mas cortar —
cortar o que oprime,
cortar o que mente,
cortar o que explora.
Jorge Santos-Silva
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