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Mensagens

Série "Respirações da Alma — Ensaios sobre o Bem e o Mal” - As Pedras

A tradição tomasina ensina-nos que a virtude e o vício não são meros comportamentos ocasionais, mas habitus — disposições estáveis da alma adquiridas pela repetição dos atos. São Tomás de Aquino, na Summa Theologica (I-II, q. 49-55), define o habitus como uma qualidade “difícil de remover”, que inclina o ser humano a agir de determinado modo. A virtude é, pois, o habitus boni , a disposição orientada para o bem conforme a razão e ao fim último; o vício é o habitus mali , o desvio reiterado que arrasta o homem para o prazer ilusório e a desordem moral. Esta distinção ganha vida concreta quando observamos que o bem e o mal não são apenas conceitos, mas ritmos que se instalam na alma . A consciência moral não desperta na abstração, mas no confronto com a prática, por isso o homem não se torna virtuoso por conhecer o bem, mas por praticá-lo continuamente, até que o agir reto se torne natural. Do mesmo modo, o vício nasce e cresce no quotidiano da repetição: cada ato injusto, cada ...
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O sexto pecado não é pecado

A Ira não é descontrole, nem grito lançado ao vazio. É luz clara numa noite turva, é o olhar que vê o que foi distorcido, o espelho quebrado que ainda reflete a verdade. Surge quando a manipulação envenena o santuário da razão e do afeto, quando o veneno dos outros circula silencioso e ameaça corroer a essência, a identidade. Não é desvio, nem falha moral — é defesa viva, a resposta imune de um corpo fatigado, que se ergue contra a infeção simbólica. A Ira dignifica-se na justiça do seu fogo, quando é limite que rasga a névoa, quando é rutura que liberta, quando não procura destruir, mas cortar — cortar o que oprime, cortar o que mente, cortar o que explora. Jorge Santos-Silva

Série " Pensamentos Imperfeitos " - E há outros...Sempre há outros! |By Jorge Santos-Silva

Como todos, sou amado e ignorado, desejado e esquecido. Há quem me ame sem saber, e quem me odeie sem querer. Há quem precise de mim apenas quando lhes falto, e quem me tenha em pensamento, mesmo sem se dar conta. Há quem me procure em cada esquina, mas nunca me encontre. E quem tropece em mim, sem nunca ter procurado. Há os que me invejam pelo que sou, e os que invejam o que desejo. Os que me querem mal, mas sem querer, me querem bem. E há outros… Sempre há outros! Jorge Santos-Silva

Série "Pensamentos Imperfeitos" Um dia normal | By Jorge Santos-Silva

Sou uma pessoa normal! Como normal é o louco que grita verdades que não queremos ouvir, enquanto somos apenas o reflexo distorcido da ilusão que criámos de nós próprios. Sou como aquele que aponta defeitos e silencia virtudes, não para esconder os seus, mas para que os nossos sejam monstros, mais temíveis que os dele. Sou… Uma pessoa normal. Sou o futuro de muitos, o passado de alguém. E hoje, serei o fio da lâmina que corta a eito, para que os ímpios não vençam e os culpados desfaleçam. Hoje será um bom dia. Um, dia normal. Jorge Santos Silva

Série "Pensamentos Imperfeitos" Face...Book, By Jorge Santos-Silva

  Calma... E escreve. Deixa que os outros ouçam os teus pensamentos, comentem os teus lamentos, riam-se das tuas certezas, como tu ris dos pedantes. Sente pena dos ignorantes, pois deles será o Reino dos Céus... mas na terra, nada são, nem poeira ao vento, nem sombra de sombra. Fecha o semblante. Olhar sério, máscara fria, porque muito riso, pouco siso, e eu quero ser levado a sério! Ou talvez não... Calma! Mas porquê?... Não sei. Mas calma... Porque feliz é quem vive na cegueira da ignorância, quem escuta, mas não ouve, quem vê, mas não enxerga. E para quê ditar aqui sapiência, se as almas estão surdas? Deixa, que a razão vem sempre ao de cima. Ou será a verdade? Caramba... e agora? Que fique claro: não me deixarei consumir por esta dúvida, porque até a merda flutua... E os Doutos, casta à qual não pertenço, não se deixam empertigar pela dúvida— essa que é a razão da razão, ou a inexistência dela. Jorge Santos-Silva

Série "Pensamentos Imperfeitos"- O Metro..., By Jorge Santos-Silva

Das entranhas da terra, ruge e arrasta-se, uma lesma que desperta do seu covil. Mas esta é diferente, devora humanos, como outras que vi, noutras terras, noutros tempos. Os seus olhos serpenteiam na penumbra, indiferentes, à fome, à guerra, à doença. Brilham iguais sob o peso do mundo, quer reine o bem, quer impere a tormenta. De longe a longe, uma voz anuncia o caminho, repetida, imutável, sem nunca se cansar. Ao meu redor, sombras imóveis, olhares vazios, procuram em si os sonhos perdidos, os pensamentos há muito falidos. E eu, embalado pelo seu deslizar, sou levado no ritmo rouco da viagem, zombie entre zombies, preso em sonhos, ou no que resta do meu sonhar. Por fim, sou cuspido pela besta, de volta ao mundo, à luz do dia. Mas amanhã, mesmo sem querer, ela há-de abrir-se para me engolir. Despeço-me do Metro… até outro dia. Jorge Santos-Silva

A Dualidade Humana e a Busca pela Harmonia, By Jorge Santos-Silva

São Tomás de Aquino, ao refletir sobre a natureza humana, destaca a dualidade que nos define: somos seres racionais, mas também mortais. Apesar de possuirmos a capacidade de raciocinar e de aspirar a um futuro melhor, não podemos escapar à dura realidade da nossa finitude. Esta consciência da mortalidade é, de facto, um aspeto central na sua filosofia, que nos recorda a fragilidade da condição humana e suscita em nós a urgência de procurar um propósito que transcenda as divisões ideológicas, sociais e económicas que nos cercam. Vivemos numa era marcada por intensos conflitos e guerras ideológicas, que nos afastam uns dos outros. Observa-se uma triste tendência: em vez de nos unirmos, a humanidade tende a perder-se nas suas divergências, frequentemente esquecendo que partilhamos um mesmo destino, o legado herdado de Adão. Segundo Aquino, a sabedoria reside em reconhecer e aceitar essa finitude, que deve guiar as nossas ações rumo ao bem comum e à harmonia social. Assim, a reflexão “Toma...