A Ira não é descontrole, nem grito lançado ao vazio.  É luz clara numa noite turva,  é o olhar que vê o que foi distorcido,  o espelho quebrado que ainda reflete a verdade. Surge quando a manipulação envenena  o santuário da razão e do afeto,  quando o veneno dos outros circula silencioso  e ameaça corroer a essência, a identidade. Não é desvio, nem falha moral —  é defesa viva,  a resposta imune de um corpo fatigado,  que se ergue contra a infeção simbólica.    A Ira dignifica-se na justiça do seu fogo,  quando é limite que rasga a névoa,  quando é rutura que liberta,  quando não procura destruir, mas cortar —  cortar o que oprime,  cortar o que mente,  cortar o que explora. Jorge Santos-Silva
  Nasci no Norte, onde a terra beija o mar, naquele recanto onde o azul profundo me acolhe a cada amanhecer, e a luz dourada do sol convida ao repouso no silêncio da minha alma. Sim, sou de Leça, palmeirense de coração, eterno peregrino com alma celta, filho de Viriato e irmão do vento. Pertenço ao mundo dos solitários, em busca incessante da felicidade, como quem persegue uma chama fugaz, um vislumbre do destino que me aguarda. Sou filho, pai e irmão, descendente de uma nobre linhagem de valentes lobos do mar, cavaleiro andante sem corcel, nobre sem coroa nem trono, mas com a honra gravada no peito e a coragem a guiar os meus passos.